quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Este inferno de amar




Este inferno de amar - como eu amo!
Quem mo pôs aqui n'alma... quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida - e que a vida destrói -
Como é que se veio a atear,
Quando - ai quando se há-de ela apagar?

Eu não sei, não me lembro: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez... - foi um sonho -
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar...
Quem me veio, ai de mim! despertar?

Só me lembra que um dia formoso
Eu passei... dava o sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz? - não no sei;
Mas nessa hora a viver comecei...

Almeida Garrett

2 comentários:

  1. Este Garrett... dá vontade de não parar de ler!
    As Folhas Caídas deixam-nos caídos nas palavras e nos sentimentos que respiram nelas!

    "Mas nessa hora a viver comecei!"- lindo!

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  2. É efectivamente mágico Garrett. Mais ainda quando nos revemos nos textos por ele escritos!

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